sexta-feira, 20 de abril de 2012

Equilíbrio entre corpo e mente

* Por Gabriela Araújo Caixeta  

Dizem que se nós pudéssemos de fato ver as pessoas por trás das aparências e roupas iríamos ver imagens de seres extremamente desproporcionais: algumas pessoas com a cabeça imensa e o coração encolhido dentro do terno, outras com o quadril vinte vezes maior que a fronte e outras com os ombros tão largos que poderiam abraçar 7 árvores, porém não conseguiriam caminhar com independência. 
E o que estas imagens desproporcionais representariam? Elas ilustram nosso abismo interior, ou melhor, o imenso desequilíbrio entre corpo, mente e espírito (sendo o espírito aquilo que nos anima, nos dá vida  metafísica, além da matéria) que nossa sociedade apresenta na atualidade.

O Filósofo Jean-Yves Leloup nos lembra constantemente de que somos seres essencialmente multidimensionais. E frente à morte, precisamos nos recordar disto! Já a medicina atual enfatiza o conceito de ser bio-psico-social quando se trata de saúde. Mas, ainda pensamos e nos comportamos como se houvesse uma imensa distância entre o pensar, sentir, fazer e ser. Como se a mente, o corpo e o espírito estivessem de fato separados (para a alegria cartesiana!) ao invés de estarem em interação contínua, ininterrupta e sincrônica.

Sob estresse contínuo você respira de maneira mais curta, oxigena menos todos os órgãos e células, e diminui a capacidade de processamento de informações, além de reduzir a capacidade de ação do sistema imunológico. Veja: isto é a mente influenciando o corpo! Por outro lado, após uma refeição maravilhosa, uma noite de sono adequada ou uma noite memorável de carícias afetivas físicas é difícil gerar a mesma quantidade de pensamentos negativos que aparecem com facilidade após 1 hora de rigidez corporal, dentro do carro em um congestionamento de trânsito. Nesta situação, o corpo está influenciando e limitando a mente!

Esta interação corpo-mente ocorre 24 horas por dia, 365 dias por ano. Ela existe desde a nossa concepção (e a formação de nosso sistema nervoso e respiratório) até o dia de nossa morte, no qual acredita-se que o fim sobrepõe-se a esfera espiritual. Dentro desse sistema processual ininterrupto, cabe a nós reconhecermos a importância de ajudar a real autorregulação corpo-mente-espírito ou o equilíbrio das nossas estruturas humanas.

Aprender a deixar a mente e o corpo equilibrados significa ter a humildade e a coragem de admitir que a pessoa que se descontrola na reunião é a mesma que se preocupa com a família em crise e é a mesma que sofre com frequência de gastrite. Significa que ela também é a mesma que pode aprender a respirar e a relaxar em aulas de alongamento, em uma psicoterapia, e aprender a lidar de maneira mais sábia com os sentimentos e desafios dentro do lar. E que sim, faz diferença o hambúrguer de todo dia ou a salada cotidiana com alimentos menos ácidos!

Na verdade, um dos maiores benefícios em deixar a mente, corpo e espírito equilibrados é a capacidade que o profissional ganha de ter maior clareza e concentração na hora de analisar situações delicadas. Equilibrar significa criar um equilíbrio multidimensional ou favorecer sua capacidade de autorregulação orgânica-psíquica. Na prática, você se torna um organismo mais integralmente forte, preparado e flexível. Isto é, caso a mente esteja enfraquecida, o corpo a fortalece na crise. E caso a fé fique abalada, a mente poderá reorganizá-la, assim como se o corpo estiver cansado, o prazer afetivo poderá renová-lo.

Equilibrar corpo-mente-espírito é aprender a fazer o que Abraham Lincoln dizia: "Se eu tivesse seis horas para derrubar uma árvore, eu passaria as primeiras quatro horas afiando o machado!”.
E como podemos deixar estas três estruturas em sintonia? Cada pessoa é única e cada caso apresenta restrições e indicações. Gandhi acordava às 4 horas da manhã para orar e meditar antes de atuar em sua comunidade e campanhas contra a não-violência. Jesus Cristo escolhia intervalos de purificação e oração no deserto. Abílio Diniz dedicava horas significativas de sua semana à prática intensiva de esportes, psicoterapia e orações mentais. Todas essas personalidades completamente distintas tinham consciência de que somos um organismo integral, no qual todas as nossas estruturas precisam ser afiadas e alimentadas continuamente para vencerem e não se desgastarem por completo frente aos desafios.

De maneira objetiva, pergunte-se: Qual desses aspectos você precisa autorregular? 1- Saúde Física; 2-Saúde Mental-emocional; 3- Saúde social (lazer, interação familiar), 4-Saúde espiritual (por meio de crenças ou praticas metafísicas); 5- Saúde profissional-financeira. Caso você esteja em déficit em alguma destas áreas você terá problemas similares se repetindo em sua vida, de maneira cíclica, e estará desperdiçando tempo e energia em conflitos, desgastes, padrões familiares inconscientes e confusões, ao invés de investir energia psíquica ou vital em real qualidade de vida.

Uma vez consciente das áreas a serem reajustadas comece abrindo as portas ou pontes de mudanças mais interessantes para você: busque esportes agradáveis (os aeróbicos e os de conscientização respiratória como yoga, pilates ou artes marciais tendem a realizar melhor a gestão de estresse e, em maior intensidade e frequência, podem ajudar a prevenir multiplicação de estados orgânicos propícios à multiplicação de células cancerígenas). Procure terapias ou psicoterapias com as quais você se identifica. Abra tempo de qualidade para lazer e para afeto com amigos e família (eles são nosso sustento e nutrição emocional-social mais significativos. Aumentam nossa expectativa de vida quando nos tornamos idosos).  Pratique e dedique tempo para as leituras ou meditações espirituais ou filosóficas que te fortalecem para ir além da visão cotidiana banal. Busque dar-se de presente a verdadeira quantidade e qualidade de sono e alimentação para um corpo que se esforça com plenitude durante o cotidiano. E tenha humildade para pedir ajuda em consultoria (ou coaching) para ajustar sua saúde-profissional financeira.

Lembre-se de que a sociedade ainda acredita em um grande mito: tempo é dinheiro e não energia (vital, física, psíquica, afetiva, social, evolutiva etc). Se você é daqueles que ainda acredita que tempo é dinheiro, provavelmente estará pensando e concluindo que o dinheiro pode comprar o tempo. Porém, você pode se desgastar bastante durante alguns anos, pois poderá comprar tempo livre quando estiver mais velho. Bem, amigo, sinto em lhe desapontar: O tempo não é comprável, como afirma Rudiger Dahlke (2001) em sua obra Qual é a doença do mundo? Uma vez gasto e desperdiçado, você não poderá reviver a infância perdida dos filhos, a vitalidade dos rins e fígado, tentar resgatar o casamento por anos abandonado ou a consciência leve de ficar na rede da fazenda se sua mente e corpo já se desaprendeu há anos. Nem o tempo é dinheiro nem ele pode ser de fato comprado ou guardado.

Lembre-se, porém, de que ao tentar se reequilibrar ou se autorregular, os ganhos não serão instantâneos e imediatos. Ganhos físicos pedem 3 meses de dedicação dupla ou tripla na semana para começarem a estabilizar o corpo na produção de serotonina e outros hormônios reguladores do humor e da vitalidade. Mudanças psíquicas podem demandar mais disciplina e investimento. O fato é que a cada dia que passa, os desafios não diminuirão de tamanho. Então, a sabedoria aconselha começar e não desistir até que a mudança apresente frutos que possam ser de fato colhidos.

Qual a necessidade de manter esse equilíbrio multidimensional? Dahlke lembra de que nossa obsessão em priorizar apenas o trabalho, finanças e tecnologia, e nosso hábito de empobrecer o corpo, as emoções e a alma, ajudou com que a Europa (1920 a 2001) aumentasse as enfermidades cardiovasculares em 14 vezes; as reumáticas, 17 vezes; o câncer, 20 vezes; a obesidade, 35 vezes; o diabetes, 56 vezes; a esclerose múltipla, 59 vezes; as alergias, 70 vezes; e o Alzheimer, 89 vezes. Ou decidimos que queremos qualidade de vida integral ou assumimos que estamos, a cada dia, favorecendo nosso adoecimento físico-emocional de maneira contundente.

E quando você tiver dúvidas sobre o impacto de mudanças emocionais, físicas, psicológicas, espirituais ou sociais á saúde, lembre-se do imenso esforço do médico psiquiatra francês David Servan-Schreiber, que dedicou mais de 10 anos de sua vida para estudar as defesas naturais para a prevenção, tratamento e cura do câncer (Anticâncer- Prevenir e vencer usando nossas defesas naturais, 2007). Ele mudou os pontos de vistas radicais ao estudar pesquisas de várias áreas da saúde (com qualidade científica aprofundada, mas nem sempre divulgada) acerca de atitudes que, por aumentarem a ação das células imunológicas, também reduziam a proliferação das células cancerígenas. E destacou entre elas as seguintes atitudes anticâncer: atividade física regular; aceitação de si, com seus valores e sua história; apoio dos amigos e da família; aceitação e serenidade; expressão de emoções e consumo frequente de dieta mediterrânea, indiana ou asiática. Perceba que ele não se ateve a fatores apenas físicos, sociais ou emocionais! Ao invés de pesquisar o corpo ou a mente, ele compreende: é corpo e mente!  E o espírito, é por sua conta!


GABRIELA ARAUJO CAIXETA CRP - 04/24181
Psicóloga Clínica, Mestre pela Faculdade de Medicina da UFMG do Programa Saúde da Mulher; Pós-graduada em Arteterapia e em Psicomotricidad pela Universidad de Zaragoza; Criadora do projeto Arte-Viva junto à prefeitura de belo Horizonte e Instituto Inspirar, soluções Originais para Saúde, Educação e Arte. Contato: Tels – 32911747, 95041732,  Gabrielamcaixeta@yahoo.com.br

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