Dizem que se nós pudéssemos de fato ver as pessoas
por trás das aparências e roupas iríamos ver imagens de seres extremamente
desproporcionais: algumas pessoas com a cabeça imensa e o coração encolhido
dentro do terno, outras com o quadril vinte vezes maior que a fronte e outras
com os ombros tão largos que poderiam abraçar 7 árvores, porém não conseguiriam
caminhar com independência.
E o que estas imagens desproporcionais representariam?
Elas ilustram nosso abismo interior, ou melhor, o imenso desequilíbrio entre
corpo, mente e espírito (sendo o espírito aquilo que nos anima, nos dá
vida metafísica, além da matéria) que
nossa sociedade apresenta na atualidade.
O Filósofo Jean-Yves Leloup nos lembra
constantemente de que somos seres essencialmente multidimensionais. E frente à
morte, precisamos nos recordar disto! Já a medicina atual enfatiza o conceito
de ser bio-psico-social quando se trata de saúde. Mas, ainda pensamos e nos
comportamos como se houvesse uma imensa distância entre o pensar, sentir, fazer
e ser. Como se a mente, o corpo e o espírito estivessem de fato separados (para
a alegria cartesiana!) ao invés de estarem em interação contínua, ininterrupta e
sincrônica.
Sob estresse contínuo você respira de maneira mais
curta, oxigena menos todos os órgãos e células, e diminui a capacidade de
processamento de informações, além de reduzir a capacidade de ação do sistema
imunológico. Veja: isto é a mente influenciando o corpo! Por outro lado, após
uma refeição maravilhosa, uma noite de sono adequada ou uma noite memorável de
carícias afetivas físicas é difícil gerar a mesma quantidade de pensamentos
negativos que aparecem com facilidade após 1 hora de rigidez corporal, dentro
do carro em um congestionamento de trânsito. Nesta situação, o corpo está influenciando
e limitando a mente!
Esta interação corpo-mente ocorre 24 horas por dia,
365 dias por ano. Ela existe desde a nossa concepção (e a formação de nosso
sistema nervoso e respiratório) até o dia de nossa morte, no qual acredita-se
que o fim sobrepõe-se a esfera espiritual. Dentro desse sistema processual ininterrupto,
cabe a nós reconhecermos a importância de ajudar a real autorregulação corpo-mente-espírito
ou o equilíbrio das nossas estruturas humanas.
Aprender a deixar a mente e o corpo equilibrados
significa ter a humildade e a coragem de admitir que a pessoa que se
descontrola na reunião é a mesma que se preocupa com a família em crise e é a
mesma que sofre com frequência de gastrite. Significa que ela também é a mesma
que pode aprender a respirar e a relaxar em aulas de alongamento, em uma
psicoterapia, e aprender a lidar de maneira mais sábia com os sentimentos e
desafios dentro do lar. E que sim, faz diferença o hambúrguer de todo dia ou a
salada cotidiana com alimentos menos ácidos!
Na verdade, um dos maiores benefícios em deixar a
mente, corpo e espírito equilibrados é a capacidade que o profissional ganha de
ter maior clareza e concentração na hora de analisar situações delicadas.
Equilibrar significa criar um equilíbrio multidimensional ou favorecer sua
capacidade de autorregulação orgânica-psíquica. Na prática, você se torna um
organismo mais integralmente forte, preparado e flexível. Isto é, caso a mente
esteja enfraquecida, o corpo a fortalece na crise. E caso a fé fique abalada, a
mente poderá reorganizá-la, assim como se o corpo estiver cansado, o prazer
afetivo poderá renová-lo.
Equilibrar corpo-mente-espírito é aprender a fazer o
que Abraham Lincoln dizia: "Se
eu tivesse seis horas para derrubar uma árvore, eu passaria as primeiras quatro horas afiando o machado!”.
E como podemos deixar estas três estruturas em
sintonia? Cada pessoa é única e cada caso apresenta restrições e indicações.
Gandhi acordava às 4 horas da manhã para orar e meditar antes de atuar em sua comunidade
e campanhas contra a não-violência. Jesus Cristo escolhia intervalos de
purificação e oração no deserto. Abílio Diniz dedicava horas significativas de
sua semana à prática intensiva de esportes, psicoterapia e orações mentais. Todas
essas personalidades completamente distintas tinham consciência de que somos um
organismo integral, no qual todas as nossas estruturas precisam ser afiadas e
alimentadas continuamente para vencerem e não se desgastarem por completo
frente aos desafios.
De maneira objetiva, pergunte-se: Qual desses aspectos
você precisa autorregular? 1- Saúde Física; 2-Saúde Mental-emocional; 3- Saúde
social (lazer, interação familiar), 4-Saúde espiritual (por meio de crenças ou
praticas metafísicas); 5- Saúde profissional-financeira. Caso você esteja em
déficit em alguma destas áreas você terá problemas similares se repetindo em
sua vida, de maneira cíclica, e estará desperdiçando tempo e energia em
conflitos, desgastes, padrões familiares inconscientes e confusões, ao invés de
investir energia psíquica ou vital em real qualidade de vida.
Uma vez consciente das áreas a serem reajustadas
comece abrindo as portas ou pontes de mudanças mais interessantes para você:
busque esportes agradáveis (os aeróbicos e os de conscientização respiratória
como yoga, pilates ou artes marciais tendem a realizar melhor a gestão de
estresse e, em maior intensidade e frequência, podem ajudar a prevenir
multiplicação de estados orgânicos propícios à multiplicação de células
cancerígenas). Procure terapias ou psicoterapias com as quais você se
identifica. Abra tempo de qualidade para lazer e para afeto com amigos e
família (eles são nosso sustento e nutrição emocional-social mais significativos.
Aumentam nossa expectativa de vida quando nos tornamos idosos). Pratique e dedique tempo para as leituras ou meditações
espirituais ou filosóficas que te fortalecem para ir além da visão cotidiana
banal. Busque dar-se de presente a verdadeira quantidade e qualidade de sono e
alimentação para um corpo que se esforça com plenitude durante o cotidiano. E
tenha humildade para pedir ajuda em consultoria (ou coaching) para ajustar sua saúde-profissional financeira.
Lembre-se de que a sociedade ainda acredita em um
grande mito: tempo é dinheiro e não energia (vital, física, psíquica, afetiva,
social, evolutiva etc). Se você é daqueles que ainda acredita que tempo é
dinheiro, provavelmente estará pensando e concluindo que o dinheiro pode
comprar o tempo. Porém, você pode se desgastar bastante durante alguns anos,
pois poderá comprar tempo livre quando estiver mais velho. Bem, amigo, sinto em
lhe desapontar: O tempo não é comprável, como afirma Rudiger Dahlke (2001) em
sua obra Qual é a doença do mundo? Uma
vez gasto e desperdiçado, você não poderá reviver a infância perdida dos
filhos, a vitalidade dos rins e fígado, tentar resgatar o casamento por anos
abandonado ou a consciência leve de ficar na rede da fazenda se sua mente e
corpo já se desaprendeu há anos. Nem o tempo é dinheiro nem ele pode ser de
fato comprado ou guardado.
Lembre-se, porém, de que ao tentar se reequilibrar
ou se autorregular, os ganhos não serão instantâneos e imediatos. Ganhos
físicos pedem 3 meses de dedicação dupla ou tripla na semana para começarem a
estabilizar o corpo na produção de serotonina e outros hormônios reguladores do
humor e da vitalidade. Mudanças psíquicas podem demandar mais disciplina e
investimento. O fato é que a cada dia que passa, os desafios não diminuirão de
tamanho. Então, a sabedoria aconselha começar e não desistir até que a mudança
apresente frutos que possam ser de fato colhidos.
Qual a necessidade de manter esse equilíbrio
multidimensional? Dahlke lembra de que nossa obsessão em priorizar apenas o trabalho,
finanças e tecnologia, e nosso hábito de empobrecer o corpo, as emoções e a
alma, ajudou com que a Europa (1920 a 2001) aumentasse as enfermidades cardiovasculares
em 14 vezes; as reumáticas, 17 vezes; o câncer, 20 vezes; a obesidade, 35 vezes;
o diabetes, 56 vezes; a esclerose múltipla, 59 vezes; as alergias, 70 vezes; e
o Alzheimer, 89 vezes. Ou decidimos que queremos qualidade de vida integral ou
assumimos que estamos, a cada dia, favorecendo nosso adoecimento
físico-emocional de maneira contundente.
E quando você tiver dúvidas sobre o impacto de
mudanças emocionais, físicas, psicológicas, espirituais ou sociais á saúde,
lembre-se do imenso esforço do médico psiquiatra francês David
Servan-Schreiber, que dedicou mais de 10 anos de sua vida para estudar as defesas
naturais para a prevenção, tratamento e cura do câncer (Anticâncer- Prevenir e vencer usando nossas defesas naturais, 2007).
Ele mudou os pontos de vistas radicais ao estudar pesquisas de várias áreas da
saúde (com qualidade científica aprofundada, mas nem sempre divulgada) acerca
de atitudes que, por aumentarem a ação das células imunológicas, também
reduziam a proliferação das células cancerígenas. E destacou entre elas as
seguintes atitudes anticâncer: atividade física regular; aceitação de si, com
seus valores e sua história; apoio dos amigos e da família; aceitação e
serenidade; expressão de emoções e consumo frequente de dieta mediterrânea,
indiana ou asiática. Perceba que ele não se ateve a fatores apenas físicos,
sociais ou emocionais! Ao invés de pesquisar o corpo ou a mente, ele compreende:
é corpo e mente! E o espírito, é por sua
conta!
GABRIELA ARAUJO CAIXETA CRP - 04/24181
Psicóloga
Clínica, Mestre pela Faculdade de Medicina da UFMG do Programa Saúde da Mulher;
Pós-graduada em Arteterapia e em Psicomotricidad pela Universidad de Zaragoza;
Criadora do projeto Arte-Viva junto à prefeitura de belo Horizonte e Instituto
Inspirar, soluções Originais para Saúde, Educação e Arte. Contato: Tels –
32911747, 95041732,
Gabrielamcaixeta@yahoo.com.br
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