segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Empreendedorismo social quer conquistar os jovens

Trabalhar no terceiro setor já é uma realidade para 1,7 milhão de brasileiros, segundo o IBGE, e hoje há possibilidade real de se fazer carreira na área. Monica Bose, coordenadora de projetos no Centro de Empreendedorismo Social e Administração do Terceiro Setor da FIA/USP, afirma que existem poucas organizações de grande porte nesse ramo. Portanto, para crescer profissionalmente o mais comum é ir migrando de uma instituição para a outra. "Normalmente as pessoas começam em organizações menores, adquirem experiência no terceiro setor e aí assumem cargos gerenciais em instituições maiores, que são sustentáveis financeiramente e podem remunerar melhor", diz.


Foi esse o caminho traçado pela administradora Mariana Paál Fernandes, de 28 anos. Formada pela FEA/USP, Mariana trabalhou com organização de eventos por quatro anos antes de migrar para o terceiro setor. "Eu não via sentido em trabalhar tanto para realizar um evento que acaba em poucas horas e não tem uma continuidade, um impacto relevante na vida das pessoas", diz. Para ela, faltava algo.


Com a meta de dar uma reviravolta em sua carreira, Mariana começou a se informar sobre o terceiro setor. Sua ideia inicial era fazer uma pós-graduação na área, mas foi orientada a trabalhar antes de fazer um curso mais aprofundado. Como achou que começaria como voluntária, já que não tinha experiência na área, juntou dinheiro para se manter por dois anos sem emprego e pediu demissão. Mas não foi preciso esperar tanto por um trabalho remunerado. Dois meses depois já estava empregada como assistente de projetos na ABDL, uma organização sem fins lucrativos que se propõe a articular lideranças para um mundo mais sustentável. Lá, chegou a ser coordenadora de comunicação. Ao mudar de instituição, avançou ainda mais. Hoje é analista pleno na Artemisia, instituição global que fomenta negócios sociais em quatro continentes.


Para trabalhar por uma causa que fizesse sentido para ela, Mariana teve que dar um passo atrás. Quando decidiu sair da área privada, era executiva de contas e tinha sob sua responsabilidade a organização de eventos. No terceiro setor, passou a ser assistente e viu seu salário diminuir cerca de 60%. Hoje, está estabelecida profissionalmente, mas acredita que ganha 70% da remuneração que seus pares recebem em empresas tradicionais. "Hoje posso afirmar que meu trabalho me realiza", diz.


Monica Bose diz que não há dados confiáveis que mostrem a diferença salarial entre os profissionais da iniciativa privada e do terceiro setor, mas ela existe. "Há seis anos, a remuneração era muito baixa e mal dava para manter uma boa qualidade de vida. Hoje, ainda ganha-se menos, mas dá para viver bem", afirma Monica, que é também professora do MBA Gestão e Empreendedorismo Social da FIA/USP.


Mostrar aos jovens profissionais que há uma alternativa à carreira nas empresas tradicionais é o objetivo da primeira Conferência de Negócios Sociais para Universitários da América Latina, que acontece nesta semana em São Paulo. Durante o evento, investidores e empreendedores de diversos países querem mostrar que, entre ganhar dinheiro e encontrar um trabalho que faça a diferença para diminuir as desigualdades sociais, é possível ficar com os dois.


Trabalhar no terceiro setor, no entanto, tem suas particularidades. Como as organizações sem fins lucrativos têm recursos humanos escassos, é preciso atuar em mais de uma frente. A administradora Andressa Trivelli, 26 anos, vivenciou isso. Quando era estagiária no então BankBoston, atuava apenas no estabelecimento de metas para a venda de produtos para pessoas jurídicas. Ao entrar na Tekoha, organização que cria canais de comercialização para produtos feitos a mão por pequenas comunidades, precisou lidar com administração financeira, logística, gestão estratégica e até coordenação de oficinas. "Hoje tenho certeza de que o empreendedorismo social era o que eu queria para mim", diz.



Fonte: Valor online

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