sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A ética (e a falta dela) no mundo corporativo

A demissão de Adilson Primo da presidência da Siemens chama a atenção pela forma crua como a empresa anunciou a decisão. Sem utilizar subterfúgios, comuns em ocasiões como essa, o comunicado divulgado, dizia que o executivo havia cometido "graves contravenções", sem, no entanto, especificar quais seriam elas.


Também não fez ressalvas quando informações veiculadas na imprensa falavam em desvios de € 6,5 milhões para uma conta bancária na Europa em nome de Primo. Desvios de conduta, roubos, favorecimentos acontecem em todas as empresas de todos os países do mundo.


Em geral, são tratados de outra forma. Muitas vezes, empregador e empregado fazem um acerto, no qual o segundo pede demissão com as alegações de praxe: "novos desafios profissionais" ou o "encerramento de um ciclo dentro da organização".


É uma fórmula relativamente cômoda para os dois lados. O executivo sai com a moral preservada. E a companhia não passa recibo de fragilidade em seus controles.


Independentemente da forma como se dá o anúncio, uma pergunta permanece: como minimizar os riscos de fraudes no ambiente corporativo? Controles rigorosos, códigos de conduta, punição exemplar para deslizes desse tipo - tudo isso é necessário e obrigatório.


Mas tão importante quanto isso é estabelecer um comprometimento forte entre empresa e funcionários. Os executivos devem perceber que a boa saúde financeira e o sucesso da companhia irão se reverter em benefícios para sua carreira (e para seu bolso, também). Para isso, é preciso desenvolver uma cultura organizacional baseada na meritocracia, na qual o bom desempenho e a atitude positiva sejam os critérios para o desenvolvimento profissional na organização.


Pesquisa feita anos atrás pela Universidade Stanford, um dos centros de estudos mais prestigiados dos Estados Unidos, revela que as empresas mais transparentes na relação com seus funcionários apresentam menos vulnerabilidade em questões éticas.


Segundo o estudo, realizado junto a mais de 300 grandes companhias americanas, o mais importante, contudo, é a postura dos líderes. Em organizações em que chefes e coordenadores mantêm retidão em sua conduta, a incidência de casos de desvio de dinheiro, por exemplo, era cerca de 70% menor do que naquelas empresas com dirigentes que se favoreciam de seu poder.


Os casos de favorecimento pessoal eram 50% inferiores. A Enron, a gigante do setor elétrico americano, naufragou justamente pela absoluta permissividade que tomou conta de sua estrutura.


Os principais diretores, incluindo o presidente, eram conhecidos nos corredores da companhia como patrocinadores de festas nababescas bancadas com o dinheiro da empresa. Quando isso ocorre, está aberta a porta para "graves contravenções".


Fonte: Brasil Econômico

Autor: Joaquim Castanheira é diretor de redação do Brasil Econômico

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