terça-feira, 21 de junho de 2011

Ações no Brasil entre as mais baratas do mundo

O tombo da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) este ano, em meio a temores sobre a crise na zona do euro e a alta da inflação, tornou as ações brasileiras uma das mais baratas do mundo para se investir. Segundo analistas, existem oportunidades em papéis como Vale, Petrobras, bancos e incorporadoras imobiliárias, todos considerados baratos. Eles recomendam o investimento, no entanto, apenas para quem está disposto a manter a aplicação por mais de dois anos, dadas as incertezas sobre a Bolsa.
Especialistas apontam o indicador que mede a relação entre preço e lucro das ações para mostrar como os papéis estão baratos, o chamado P/L. O indicador divide o preço do papel na Bovespa pelo lucro por ação da empresa nos últimos 12 meses. O resultado desse cálculo revela quantos anos o investidor precisará ter a ação para reaver o investimento apenas com o lucro do papel, sem a valorização. Esse prazo é teórico, já que as empresas não distribuem 100% dos lucros.
Por esse cálculo, o investidor precisaria atualmente de apenas nove anos (9,29) para obter retorno com as ações que compõem o Ibovespa, que são principais da Bolsa. Para se ter uma ideia, em 31 de dezembro de 2009, ao fim da última sequência de bons resultados visto na Bolsa, esse indicador era 20,28.
- O mercado tem olhado muito o preço/lucro da Bolsa brasileira, que está abaixo da média histórica. Os lucros das empresas foram bons, mas as ações têm caído por conta de todo esse cenário de incerteza. A Bolsa está barata - explica Paulo Hegg, operador da Um Investimentos.

Falta de compradores atrapalha retomada da Bolsa
Com esse movimento, a Bolsa brasileira aparece como a terceira mais barata em um ranking de 14 bolsas de valores. Ela fica atrás apenas da Rússia (7,86) e da Espanha (8,67). Já a bolsa mais cara do mundo está nos EUA, mais precisamente o índice Nasdaq, com P/L de 22,2 vezes. O índice passou por um recente período de altas consecutivas e analistas começam a falar em bolha.
Segundo Rossano Oltramari, analista-chefe da XP Investimentos, as ações de Vale e Petrobras, além dos bancos, são atualmente as mais atraentes. Ele vê uma boa oportunidade de investimento na Bolsa. Mas alerta que o cenário econômico global continua incerto e não existe promessa de ganho rápido.
- Estamos céticos sobre o desempenho da Bolsa no curto prazo. Mas, quando o cenário externo melhorar, a Bolsa vai andar. É preciso que os estrangeiros voltem a aplicar aqui, melhorem o fluxo. Hoje, não há dinheiro novo entrando na Bolsa. Investidores apenas têm trocado posições, ou seja, vendido alguns papéis e comprado outros - explica Oltramari.
Os analistas lembram que as ações mais baratas são, coincidentemente ou não, de empresas que sofreram algum tipo de interferência do governo este ano. Os papéis da Petrobras registram um P/L de 6,7 vezes, atrapalhados pela ingerência no reajuste do preço da gasolina. Já as ações da Vale, que teve seu presidente trocado por influência do Palácio do Planalto, têm um P/L de apenas 6,5 vezes.
O mercado não gosta de interferências nas empresas, principalmente no início de um novo governo, quando é mais difícil se analisar algumas questões. Isso afastou muito os estrangeiros - afirma André Perfeito, da Gradual.
O mesmo ocorreu em ações do Banco do Brasil (6,30) e do Santander (8,90), atrapalhadas pelas medidas de contenção do crédito pelo governo.
Eduardo Jurcevic, superintendente-executivo da Santander Corretora, sugere aos clientes não ficar de fora do mercado, apesar dos problemas de gestão das empresas. Ele também recomenda papéis de construção, que, afirma, estão com P/L baixo e têm bom potencial para causa do déficit habitacional do país.
Olhando os preços e os fundamentos, o mercado está barato sim. No curto prazo ele vai chacoalhar e pode cair um pouco mais. Para o segundo semestre, aposto numa perspectiva melhor. É difícil acertar o momento em que a Bolsa chega ao fundo do poço e volta a subir. Mas a principal mensagem é não ficar de fora da Bolsa neste momento - afirma Jurcevic.
A engenheira Ellen Correa Gois Batista, cliente da XP Investimentos, decidiu ficar no mercado, apesar da queda das ações. Ela comprou papéis da Vale e da Petrobras há cerca de um ano, entre outros. Apesar de optar por não vendê-los, também não pretende colocar mais dinheiro na Bolsa até as nuvens se dissiparem.
“Essa queda e a falta de uma leitura clara do mercado gera insegurança. Eu já quis sair, mas percebi que não adianta pular fora no pior momento. Não tenho pressa, até porque tenho outros investimentos, como fundos” explica ela.

Mercado revê crescimento do Ibovespa para este ano
Sem uma definição sobre o pacote de ajuda à Grécia, os analistas divergem sobre o potencial de valorização da Bolsa no curto prazo. Para Álvaro Bandeira, diretor de varejo da Ativa Corretora, o cenário aponta para um Ibovespa entre 72 mil pontos e 75 mil pontos no fim do ano. Segundo ele, as expectativas em janeiro eram de uma valorização do índice para até 82 mil pontos, um patamar recorde:
- Podemos chegar a essa pontuação se não ocorrer problemas maiores com a dívida americana, que chegou ao teto e precisa ter seu limite ampliado para não haver um calote técnico em agosto. O mesmo vale para os problemas da dívidas da zona do euro.


Fonte: www.oglobo.globo.com/economia

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